COMENTANDO JESUS 3: NÃO SE PODE DISSOCIAR O JESUS CRUCIFICADO E O CRISTO RESSUSCITADO!
Este terceiro comentário tem como base um texto do livro O ser humano em busca de identidade: contribuições para uma antropologia teológica de autoria de Gottfried Brakemeier, teólogo luterano (editora Sinodal; editora Paulus, 2002, p.42,43), com o que concordo integralmente.
Eis a citação:
“É
ilícito dissociar o Jesus crucificado e o Cristo ressuscitado. O Nazareno é
sinônimo não só de vitória e poder. Ênfase unilateral no Cristo exaltado
alimentou um triunfalismo cristão que idolatrava o sucesso. Em sua variante
religiosa, a pessoa cristã não podia demonstrar fraqueza. Seria indício de
insuficiência de fé. Atitude sempre vitoriosa, porém, tem seu preço pela
hipocrisia. Em sua variante política, legitimava o exercício de poder. Os soberanos
sancionavam sua autoridade com o Cristo monarca, em cujo nome haveria de ser
extirpado tudo o que não lhe sujeitasse. Foi essa a cristologia dos
conquistadores da América Latina. Esse Cristo é cruel, em ambas as variantes. A
obsessão pela vitória vai violentar o humano e inevitavelmente tomará formas excludentes.
Inversamente, temos na América Latina também a figura do Cristo morto, como o
exibe o crucifixo ou então o cadáver de Jesus estirado em esquife. É documentação
de um Jesus vencido pelas forças do mal, simbolizando a condição de impotência
social de seus devotos. Ênfase unilateral no Cristo crucificado, sob exclusão
da perspectiva da Páscoa, é promotor ou sustentador de fatalismo e conformismo.
A ideia de sofrer o mesmo destino de Cristo pode ajudar a suportar o
infortúnio. Mas não desenvolve força transformadora. As histórias do Novo
Testamento identificam o crucificado e o ressuscitado. Este traz as chagas em
seu corpo. A Páscoa não anula a cruz, assim como esta necessita daquela para
ser redentora. É a razão por que Lutero e opunha à teologia da glória, de
índole entusiasta. Considerava-a enganosa, muito em desacordo com o escândalo
do qual fala o apóstolo Paulo (1 Co 1.18s). Deus se revela justamente na humilhação da cruz. Esta não é
contingência acidental nem sinal de derrota, e, sim, de auto esvaziamento em
favor da criatura perdida. Consequentemente,
Deus quer ser procurado “embaixo”, junto a quem sofre. Jesus, o crucificado,
disto é sinal. Dando sua vida em favor dos ímpios (Rm 5.5s), fez-se servo de
todos (Fp 2.7). Somente como tal, é Senhor. Nele se fundem a fraqueza e o poder
divina, o “ainda não” do reino de Deus e sua antecipação, a realidade da morte
e da ressurreição. Tal perspectiva exclui tanto a resignação quanto a
vanglória. Ensina a viver, isto sim, numa esperança ativa. Na teologia
latino-americana, haverá de dizer-se que a cruz é resultado da inconformidade
de Jesus com o pecado, sinal de protesto e martírio. Essencial é a manutenção
da dialética: a fraqueza do Jesus crucificado é a de Deus todo –poderoso que o
ressuscitou dos mortos como primogênito de uma nova criação (Cl 1.15s). A
imagem de Deus que é Jesus Cristo traz, em união indissolúvel, as marcas do
sofrimento solidário e as insígnias do triunfo sobre as causas do mesmo”
Reflitamos
sobre o texto. É chegado o tempo de dar um basta às “teologias de vitórias e do
super-crente”, e de tantas outras invencionices da igreja brasileira! Cristo é
Cristo. Humano, mas divino. É Rei, mas foi o maior dos servos. É Todo-Poderoso,
mas se esvaziou de Seu poder, para cumprir Sua missão e nos dá o exemplo. Sua
preocupação maior – em Seu ministério terreno - não foi combater as diferenças
econômicas (pobres x ricos), tampouco certas questões sociais gritantes
(escravos e senhores), mas dar sentido e significado à existência humana,
transformando pessoas. Antes arrogantes e autossuficientes, agora humildes,
mansas, amorosas, solidárias, honestas. Antes indiferentes ao outro, agora
pessoas de bem, dispostas à prática do bem. Isso ocorrendo, o tempo conduziria
à diminuição das mazelas econômicas e sociais; o mundo seria melhor.
O
paradigma transformador em Cristo enaltece não a força, mas o reconhecimento da
fraqueza e da insuficiência, que nos leva à dependência Dele.
Nele
posso todas as coisas, como bem afirma Paulo (Fp 4.13), embora nem sempre bem
compreendido: pois a ideia no pensamento paulino é a de que posso suportar
todas as coisas, tanto as boas, quanto as ruins. Devo procurar me sustentar Nele
quando há escassez (simbolicamente marca o Cristo Crucificado), mas igualmente
Dele não me posso ausentar quando há abundância em minha vida (marca o Cristo
ressuscitado).
Reflita
sobre isso!
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