A TRADIÇÃO, OS COSTUMES, A LEI x A ESPIRITUALIDADE QUE IMPORTA PARA CRISTO

Em Marcos 7.1-23 eis que é descrita uma cena que se revela em três atos:         
PRIMEIRO ATO: JESUS E OS ESCRIBAS E FARISEUS.
Há um diálogo interessante entre Jesus e os “homens da lei” que se chegam até Ele, posto que eram fiéis guardiões da lei e das tradições judaicas.
A grande indagação: Por que os teus discípulos transgridem (descumprem, desobedecem) a tradição dos anciãos e não lavam as mãos quando comem pão?
(A tradição oral dos anciãos se aplicava a muitas práticas e os fariseus acreditavam e defendiam que essas tradições eram igualmente válidas tanto quanto a lei escrita. Lavar as mãos não se referia a higiene, mas à purificação ritual).
Jesus responde a eles citando Isaías 29.13.
E a pergunta de Jesus vai ao âmago da questão. Do ponto de vista da tradição, realmente os discípulos eram transgressões, mas não eram da lei mosaica.
Já aqueles homens religiosos, assim como todos em Israel, transgrediam a lei mosaica, em relação ao quinto mandamento: a obrigação legal de honrar pai e mãe passa a ser substituída pela oferta ao templo ou ao sacerdote. Ou seja, se o filho declarar aos pais que já entrega sua Corbã – sua oferta – no templo, fica desobrigado de honrar – sustentar ou cuidar – seus progenitores.
(Corbã -a transliteração do hebraico é  " Qorban” - é uma palavra hebraica que significa “Sacrifício”, “oferta”. Literalmente, descreve aquilo que é levado para junto do altar (do verbo qarab).
Trata-se de uma palavra bíblica comum, em especial nos livros do Levítico e Números. Vejamos, por exemplo, Levítico 1,2; 2, 1.4.12.13; 6,13; 7,14; Números 7 (aparece 12 vezes!). Nossas traduções normalmente usam a palavra “oferta” quando consideram este vocábulo hebraico)
Então, entregando a Corbã no templo, cumpre-se a tradição, e bastará falar aos pais que os sacerdotes validam a substituição feita.
Mas isso gerou em Jesus um alerta: a tradição – oferta no templo – invalidou o cumprimento de um mandamento!
Novamente, como em outras ocasiões, Jesus chama pessoas assim de hipócritas e cita Isaías 29.13 afirmando que “este povo honra-me com seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens”.
SEGUNDO ATO: JESUS E A MULTIDÃO
Jesus se volta, então, para a multidão e passa a ensinar, ampliando o conceito sobre o que acabara de acontecer para que todos pudessem entender:
     1)    O que contamina o homem não é o que entra pela boca. 
             2)  O que contamina o homem é o que sai da boca.
TERCEIRO ATO: JESUS E OS DISCÍPULOS
Com os discípulos, o ensino de Jesus é mais centrado, posto que lhes critica a falta de entendimento sobre o significado de suas palavras, tanto as ditas aos religiosos quanto à multidão.
Vejamos uma análise mais ampla do ensino de Jesus, tanto na discussão como os religiosos, quanto com a multidão e os discípulos:
A discussão se firma, inicialmente, sobre o valor da tradição. Jesus lembra para os religiosos o profeta Isaías, ao abordar a hipocrisia de alguns gestos litúrgicos, que escondem uma vida longe dos preceitos divinos. Lembra, então, o preceito de cuidar dos pais e como alguns se desculpam dizendo que invés de ajudá-los tem que dar “ofertas” para o templo, para os sacerdotes.
O ensinamento de Cristo explica em que consiste a prática religiosa, que em vários setores religiosos do seu tempo se limitava a gestos formais. Para alguns, estava em primeiro lugar o sacrifício, a oferta ao Templo e só em seguida vinha a prática de fazer o bem para o próximo (com os próprios pais, neste texto).
Louvor e fé verdadeira emanam de lábios que falam do mais profundo do coração. Como princípio de vida, uma confissão de fé não é – nem pode ser – uma recitação ritual de bordões; do contrário, torna-se somente a representação de uma tradição humana e, como Jesus observa, é potencialmente hipócrita!
Se somos chamados ao louvor e à adoração à Deus, não devemos nos portar como fingidos atores rituais e que nossas confissões das promessas de Deus sejam sem hipocrisia.
Precisamos falar e agir realmente apenas o que o Espírito Santo originou em nossos corações, o que nos impulsa a somente falar a verdade com nossos lábios.
Os líderes religiosos cometeram dois grandes equívocos:
Em primeiro lugar, eles pensavam que por observar esses ritos eram melhores que os outros. Eles tinham um alto conceito de si mesmos. Eles se julgavam mais santos, mais puros, mais dignos que as demais pessoas.
Em segundo lugar, eles estavam enganados quanto à natureza do pecado. A santidade é uma questão de afeição interna e não de ações externas. Eles pensavam que eram santos por praticarem ritos externos de purificação. O contraste entre os fariseus e escribas e os discípulos de Cristo não era apenas entre a lei e os ritos, entre a verdade de Deus e a tradição dos homens, mas uma divergência profunda sobre a doutrina do pecado e da santidade. Este conflito não é periférico, mas toca o âmago da verdadeira espiritualidade. Ainda hoje, muitos segmentos evangélicos coam mosquito e engolem camelo. Os escribas e fariseus em nome de uma espiritualidade sadia, negligenciaram o mandamento de Deus, rejeitando o preceito de Deus e invalidaram a Palavra de Deus.
Jesus chama a esses religiosos de hipócritas. O hipócrita é um ator, aquele que desempenha o papel de uma outra pessoa. Ele não é quem aparenta ser. Os lábios são de uma pessoa, mas o coração é de outra. Há um perigo no ar: muitos são os que estão fisicamente na igreja e deixam seus corações em casa, assim, são uma pessoa aqui, mas ali é outra pessoa. O hipócrita é alguém que esconde, ou tenta esconder suas intenções reais por trás de uma máscara de virtude simulada. O hipócrita é aquele que fala uma coisa e sente outra. Há um abismo entre suas palavras e seus sentimentos, um hiato entre suas ações e seu coração, uma esquizofrenia entre seu mundo interior e o exterior. O hipócrita é um enganador, fraudulento, impostor; Ele finge ser o que, na verdade, não é.
UMA OBSERVAÇÃO:
 Os rabinos haviam dividido a Lei Mosaica, ou Torá, em 613 decretos distintos, com 365 deles sendo considerados proibições, enquanto 248 eram orientações positivas. Além disso, em conexão com cada decreto, haviam desenvolvido distinções arbitrárias entre o que consideravam “permitido”, e o que “não era permitido”. Por meio dessas distinções, eles tentavam regular cada detalhe da conduta dos judeus: seus sábados, viagens, comida, jejuns, ofertas, comércio, relações interpessoais, dentre outros.
Os escribas e os fariseus, tentando reprovar os discípulos de Cristo, para destruí-lo, foram denunciados de cometer vários desvios na prática da verdadeira espiritualidade:
1) O culto deles era em vão (7.7). Jesus responde os escribas e fariseus citando para eles a lei e os profetas, ou seja, Isaías 29.13 e Êxodo 20.12. A autoridade não está nos escritos dos rabinos, mas na Palavra de Deus. O culto só é verdadeiro quando é regido pela verdade de Deus e pala sinceridade de coração. Palavras bonitas desprovidas de verdade  interior desagradam a Deus. É uma grande tragédia quando pessoas religiosas, praticam sua religião e se tornam ainda piores.
2) Eles negligenciam o mandamento de Deus (7.8). Os escribas e fariseus eram culpados de colocar a mera tradição humana acima do mandamento divino, uma regra feita pelo homem acima de um mandamento dado por Deus. Eles deturparam o mandamento de Deus para manter a tradição dos homens. Eles deram mais valor à sua tradição oral do que a Palavra escrita de Deus.
3) Eles rejeitaram habilmente o preceito de Deus (7.9-12). Os escribas e fariseus chegaram ao ponto de anular e invalidar um preceito infalível de Deus para confirmar sua tradição fraca e miserável. Jesus fala sobre o arranjo jeitoso que os rabinos fizeram para deturpar a quinto mandamento e liberar os filhos avarentos da responsabilidade de cuidarem de seus pais na velhice. Esses líderes proclamavam amar a Deus, mas não tinham amor pelos pais. O mandamento para honrar pai e mãe está fartamente documentado nas Escrituras. Honrar pai e mãe é mais do que simplesmente obedecer-lhes. O que realmente importa é a atitude interior do filho em relação aos seus pais. Essa atitude é o que, na verdade, produz honra. Toda obediência interesseira, relutante, ou produzida pelo terror é, descartada. Honrar implica em amar e ter em alta consideração.
4) Eles invalidaram a Palavra de Deus (7.13). Os escribas e fariseus estavam não apenas ignorando, mas também invalidando a Palavra de Deus. Eles estavam retirando a autoridade divina do quinto mandamento. Por outro lado, estavam colocando em seu lugar uma tradição injusta e iníqua. Jesus deixa claro que a oferta de Corbã era apenas um exemplo dos muitos desvios desses falsos mestres.
A grande base de sustentação da ortodoxia evangélica é a verdade de que a Palavra de Deus é nossa única regra de fé e prática. A verdadeira espiritualidade não é ritual nem cerimonial, mas procede da sinceridade do coração. Não é o que homem põe para dentro que, necessariamente, faz-lhe mal, mas o que sai do seu coração. Esse preceito de Jesus tem duas implicações:
A primeira: Jesus refuta a ideia de que o homem é produto do meio. O mal não vem de fora, mas de dentro. O mal não está no ambiente, mas no coração.
A segunda: Jesus refuta a ideia de que o ritualismo externo pode nos tornar agradáveis aos olhos de Deus. Lavar as mãos ou purificar utensílios não nos torna limpos aos olhos de Deus. Ele não atenta para a aparência, mas vê o coração. Ele busca verdade no íntimo.
E explica Jesus (v.17-23) que a verdadeira pureza tem a ver com o coração e não com o estômago: Em vez de ser um prisioneiro do legalismo farisaico, Jesus exorta a multidão a ter uma espiritualidade governada pelo entendimento da verdade de Deus. Jesus dá grande ênfase à necessidade de ouvir e compreender. Não podemos seguir interpretações enganosas, antes devemos inclinar nossos ouvidos à Palavra de Deus.
Jesus se posiciona quanto as listas intermináveis do pode e não pode da religião judaica.
Jesus está declarando puros todos os alimentos. Não podemos considerar impuro o que Deus tornou puro (Atos 10.15). O alimento desce ao estômago, mas o pecado sobe ao coração. O alimento que comemos é digerido e evacuado, mas o pecado permanece no coração, produzindo contaminação e morte.
Jesus aponta o coração como a fonte dos sentimentos, aspirações, pensamentos e ações dos homens. Essa fonte é, também, a fonte de toda contaminação moral e espiritual. Estejamos, então, alertas sobre isso! (Reflexão com base em mensagem anunciada na Comunidade, por este pastor, no culto de domingo 08/12/2013).

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