MARTA, MARIA E AS ESCOLHAS: ENTRE SERVIR E ADORAR, O QUE FAZER?

Lc  10.38-42 nos descreve um episódio na caminhada de Jesus e Seus discípulos que nos traz uma excelente oportunidade para aprender sobre SERVIÇO e ADORAÇÃO. O texto bíblico nos fala que Jesus e os discípulos estavam de passagem pelo povoado e são acolhidos por Marta e sua irmã Maria. A mais velha era Marta, daí o fato de que a Bíblia nos conta o episódio e logo no início (v.38) expõe que “certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa”. Então, é certo que possuía Marta um coração generoso e acolhedor. Marta gostava de servir. Durante toda minha caminhada com Cristo ouvi sermões, mensagens e reflexões sobre este momento em que se enaltece a escolha de Maria pela adoração e total atenção dada a Jesus, enquanto se censura a escolha de Marta, pelo seu ativismo. Discordo desta abordagem e proponho, exegeticamente, outra análise, com olhar mais ampliado e completo.
Jesus é hóspede em sua casa. O que você deve fazer?
I – COMO HÓSPEDE ELE PRECISA E DEVE SER SERVIDO
Marta, pois, agiu corretamente quando se dispôs a servir ao hóspede ilustre. O próprio Jesus nos ensina que importa dar de si, dar ao outro, servindo (Mt 20.27,28:”E quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo, tal qual o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos”). Portanto, em Cristo, na essência de Seus ensinamentos, importa servir, não ser servido. Então, entendamos que Marta precisava servir. As tarefas domésticas são muito estafantes e certamente a visita não estava programada, logo, era imperioso limpar, ajeitar coisas, preparar refeição, providenciar água para lavar os pés e as mãos, talvez até para tomar banho, e água era muito escassa. Era preciso administrar bem seu uso. Mas eram visitantes... e hóspedes! Interessante que o início do v.38 descreve uma caminhada de muitos, pois está escrito “indo eles pelo caminho” (eles quem? Certamente Jesus e os discípulos), mas a parte final do versículo afirma que “certa mulher chamada Marta, hospedou-o na sua casa”. E agora? Somente Jesus foi hospedado? Claro que Jesus e todos os Seus discípulos é a resposta certa. Mas um motivo para que todo o empenho da dona de casa fosse feito para tornar a estada de Jesus e dos discípulos aprazível, agradável e reconfortante. A prática judaica da hospitalidade (mas que era comum em todo o mundo antigo) era vista como um dever sagrado e o cristianismo a adotou (Rm 12.13: ”compartilhai as necessidades dos santos, praticai a hospitalidade”) de bom grado, pois era importante como vínculo entre os cristãos, tanto pela proteção que oferecia ao viajante, como pelas oportunidades de companheirismo e estímulo mútuo. E como praticar a hospitalidade se, apenas, recebermos os visitantes e ficarmos na sala conversando, dando-lhes toda a atenção, sendo instruídos, mas sem servi-los? E o serviço doméstico compreende muitas coisas, destacando-se limpeza da casa, providência de água para beber, lavar-se e banho, de toalhas e leitos para descanso, refeições e bebidas. Após todo o serviço, quando tudo parecer perfeito, quando todos os hóspedes manifestarem sua satisfação deve-se recolher tudo, lavando e secando os utensílios usados no serviço. Ufa! É muita coisa e somente quem recebe pessoas em sua casa pode avaliar a situação de Marta, como dona de casa e os cuidados que precisava ter para transformar a estada do Mestre e Seus discípulos, em algo digno de Rei, e mais ainda, do Rei dos reis. Então, não condenamos Marta. Alguém precisa receber bem e ela se dispôs a servir.
Jesus é o Filho de Deus, Senhor e Salvador. O que você deve fazer?
II – COMO SENHOR E SALVADOR ELE DEVE SER ADORADO
Ali, também, encontrava-se o Messias, Emanuel (“Deus conosco”), o Enviado de Deus, Seu Filho, a quem devemos adorar e louvar. E Maria escolheu de pronto a “melhor parte”. Ela, então, agiu corretamente, quando se dispôs a estar aos pés de Jesus e sorver Suas palavras e Seus ensinamentos tão preciosos. Na presença de Jesus, importa-nos adorar. Mas o que é adorar? Adorar envolve a reação religiosa de orar, rogar, homenageando Deus, pois somente Ele é objeto de nossa adoração. Existem atos físicos que exibem adoração: Inclinar a cabeça, curvando-se (Ex 34.8), ajoelhar-se e estender as mãos para os céus (1 Rs 8.54), prostrar-se, rosto em terra (Gn 17.3; Ap 1.17). Mas é preciso entender que há pessoas que por alguma deficiência, temporária ou permanente, não podem assumir estas posturas ou gestos. Então, o que importa é a adoração no coração e na alma. Por isso que essas e outras atitudes, também, emocionais, sendo atitudes da alma, são de adoração. E o são quando homens e mulheres correspondem à graça divina e suas almas são transformadas, porquanto entregaram completamente ao Senhor que adoram.
Então, em resumo: Marta serviu e Maria, prostrada aos pés de Jesus, adorava. Ambas agiram corretamente. Mas, também, erraram. Marta errou quando se incomodou com a falta da irmã que não a estava ajudado nas tarefas domésticas. Não somente se incomodou, mas foi até Jesus e reclamou da irmã perguntando ao hóspede se não estava se importando com o fato de sua irmã estar ali com Ele, e não com ela. E foi mais atrevida, posto que não se dirigiu à irmã, mas ao hóspede, para que ordenasse à Maria que fosse ajudá-la. De pronto Jesus a repreendeu sobre suas inquietudes e preocupações com muitas coisas. Posto que na vida pouco é necessário ou mesmo uma só coisa é necessária: adorar a Deus. Esta boa parte da vida foi, exatamente, a que Maria escolheu e esta não lhe será tirada.
Mas Maria, por seu turno, também errou quando apenas se prostrou aos pés de Jesus para aprender e receber mais do Mestre, ignorando que precisava servir, inclusive ajudando sua irmã nas tarefas domésticas. Servir sem adorar é insuficiente. Adorar sem servir, de igual forma, é insuficiente.  Enquanto estivermos aqui, importa-nos adorar a Deus, sim, mas, amar ao próximo, também. E a manifestação do amor se dá na dimensão do serviço. Logo, não podemos proceder como Marta que apenas servia, e não adorava, nem como Maria que apenas adorava, e não servia. É preciso adorar e servir. Quando estivermos com o Senhor, definitivamente, na eternidade, apenas adoraremos. Lá anjos e servos, incessantemente, apenas adoram. Mas, aqui e agora, importa-nos ADORAR a Deus e AMAR ao outro, na dimensão do serviço que realizamos em prol daquele e daquela que precisa de ajuda. Na Comunidade temos aprendido a Amar a Deus, Adorando-O e a servir ao outro, construindo relacionamentos solidários e eternos (At 2.42-44;4.32 e Rm 2.7). Temos certeza que é do pleno agrado de Jesus Cristo, nosso exemplo maior de servo e adorador! Portanto, não há escolhas a fazer. É preciso tanto SERVIR quanto ADORAR!
Á título de observação complementar: A história seria outra se Maria estivesse, desde o início, ao lado de Marta. Juntas rapidamente fariam o serviço e bem acolheriam o hóspede e seus discípulos. Depois teriam todo o tempo para estarem - juntas - aos pés do Senhor, ouvindo-O, aprendendo e usufruindo de Sua Maravilhosa companhia, enfim, adorando-0, que é a melhor parte. (Reflexão com base em sermão proferido na Comunidade, por este pastor, no culto de domingo 13/06/2010).

Comentários

Unknown disse…
Que palavra gloriosa.Vemos Marta com outros olhos, obrigado que Deus continue de de iluminando para nós abençoar abri do nossos olhos.Marta não de vê ser desprezada por querer servir, a reflexão Boa leva a entender que precisamos tanto servir como adora.
No livro de Richard Baxter " O Pastor aprovado" relata bem essa questão, muitos estão morrendo de fome, enquanto prepara um banquete aos outros. Muitos estao preocupados em servir e não em adorar, outros em adorar e não em servir, precisamos ADORAR E SERVIR.

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